GPON ou Cabeamento Estruturado?
Em automação predial, a rede que sustenta o BMS é tão crítica quanto os próprios controladores. A decisão entre:
- Cabeamento metálico tradicional: Baseado em switches Ethernet, par trançado e PoE.
- GPON: Com fibra óptica, OLT no headend e ONTs distribuídas, impacta CAPEX, OPEX, manutenção, escalabilidade e cibersegurança.
O que permanece forte no cabeamento estruturado
A arquitetura tradicional em camadas (core/distribution/access) segue extremamente competitiva, sobretudo quando há muita demanda de PoE para câmeras, APs, luminárias e controladores IP. Switches de acesso já entregam PoE nativo, simplificando a borda e reduzindo intermediários. Ferramentas de operação maduras (SNMP, espelhamento, telemetria) e uma base ampla de profissionais encurtam diagnóstico e comissionamento. Em edifícios de porte médio, onde distâncias são modestas e dutos não são gargalo, o cabeamento metálico costuma oferecer a rota mais direta, desde que a segmentação por VLAN e o endereçamento estejam bem documentados e monitorados.
O que muda com GPON
GPON distribui conectividade por fibra com splitters passivos entre OLT e ONTs, reduzindo ativos energizados no campo, consumo elétrico e pontos de falha. As longas distâncias sem repetidores e a imunidade a EMI/RFI favorecem casas de máquinas, shafts e áreas técnicas. Na borda, as ONTs entregam portas Ethernet para BMS, gateways BACnet/IP, servidores de supervisão e, quando segmentado corretamente, até CFTV. O desenho exige atenção a três frentes: como fornecer PoE a endpoints (ONT PoE, midspans ou um pequeno switch PoE local), como implementar redundância (proteção de PON, OLT em alta disponibilidade e rotas físicas distintas) e como operar qualidade de serviço para tráfegos sensíveis, como vídeo e alarmes.
Como decidir: o que perguntar para uma boa decisão?
Na prática, a escolha costuma emergir de questões como:
- A extensão do empreendimento e a disponibilidade de dutos favorecem fibra passiva ou cobre com switches distribuídos?
- A intensidade de PoE na borda pede um acesso Ethernet clássico ou é compatível com ONT + PoE local?
- A equipe está mais preparada para operar PON ou switching tradicional?
- Qual é a ambição de expansão futura (densidade de pontos por pavimento e crescimento em torres/blocos)?
Em arranha-céus, campi e hotéis, GPON tende a vencer por ocupar menos espaço e escalar com facilidade. Em ambientes com PoE pesado, a hierarquia Ethernet simplifica alimentação e operação. Em ambos os casos, o BMS roda sobre IP e depende dos mesmos fundamentos: NTP confiável, segmentação TI/OT por zonas e firewalls, ACLs com menor privilégio e inventário de ativos atualizado.
A rede ideal é aquela que se mantém transparente quando os alarmes realmente importantes disparam. Na vida real, a operação do BMS gira em torno de eventos que não podem esperar: falha geral de chiller, bombas primárias ou secundárias paradas, perda de controle de temperatura e umidade de insuflamento, pressurização de escadas fora de setpoint, perda de comunicação de controladores críticos, vazamentos em bandejas e salas técnicas, indicadores de IAQ (CO₂, VOCs, material particulado) acima de limites e, acima de tudo, qualquer problema nos sistemas de energia que mantêm o próprio BMS vivo, como UPS, geradores e ATS.
Uma taxonomia simples ajuda a reagir sem ruído: tratar como P1 o que afeta segurança, integridade da instalação e continuidade do negócio; como P2 o que degrada conforto, qualidade do ar ou custos de forma relevante; e como P3 o que impacta eficiência, mas tem contingência clara. SLAs compatíveis (minutos para P1, dezenas de minutos para P2, poucas horas para P3) e playbooks objetivos transformam essa matriz em ação.
O que a rede precisa garantir quando o alarme toca
Quando um chiller “tripa”, uma bomba para ou um controlador some da rede, o que separa uma operação resiliente de uma reativa é a previsibilidade do transporte e a visibilidade do problema. Em GPON, isso significa operar níveis óticos e orçamentos de potência sob controle, garantir proteção de PON e priorizar alarmes no tráfego; em cabeamento estruturado, significa ter caminhos redundantes, VLANs bem isoladas para HVAC, iluminação, segurança e energia, DHCP/NTP robustos e telemetria que antecipe degradações. Em ambos, correlação de eventos reduz tempestades de alarme: uma única bomba parada pode explicar baixa ΔP, queda de vazão em serpentinas e perda de controle térmico.
Operação e cibersegurança: disciplina que vale para os dois
Independente da meia física, os pilares de confiabilidade são comuns. Mantenha segmentação lógica clara, QoS coerente com prioridades do BMS, redundância física de rotas e equipamentos, hardening de dispositivos, registros e monitoração centralizada. Padronize nomes e metadados dos pontos no BMS para facilitar investigação; implemente histerese e tempos de confirmação para silenciar alarmes “tagarelas”; use supressão por estado de manutenção quando apropriado; e rode rotinas semanais de análise com taxa de alarmes por prioridade, resolução no primeiro atendimento, aderência a SLA e ranking de causas raiz. Essa disciplina reduz custo, evita indisponibilidade e melhora a qualidade do ar percebida pelos ocupantes.
Comprando e cuidando do seu edifício
Não há um vencedor universal. Projetos extensos, com limitação de dutos e ambição de convergência TI+OT, tendem a colher melhores resultados com GPON. Ambientes com alto uso de PoE, prazos curtos e operação madura em switching seguem muito bem com o cabeamento estruturado. O que decide, no fim, é o quanto cada alternativa sustenta o BMS quando mais se precisa dele: nos alarmes P1 e P2 que definem continuidade, conforto e segurança.